domingo, 11 de novembro de 2007

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É tentador observar o Capitão Nascimento, personagem do filme “Tropa de Elite”, como um herói. Isso porque ele é um sujeito incorruptível, disposto a cumprir sua “missão”, atuando firmemente na “guerra contra o crime”. Mas, se o homem fardado realiza um feito após o outro, o homem por trás da farda pressente que seus atos são ineficazes para acabar com sua “guerra”.
Em vários momentos da película, Capitão Nascimento reflete acerca do crime e de suas origens; ele foca suas reflexões em duas causas que seriam as principais: a polícia operando através de um sistema corrupto e o financiamento do tráfico pelo consumo de drogas. Uma vez que se imagina ter encontrado as causas para o crime, um herói as eliminaria e traria a paz para sua sociedade, o que não ocorre com Capitão Nascimento.
Ele nota um sistema corrupto, mas não o combate. O máximo que consegue fazer é praguejar e imaginar que, ao atuar pelo BOPE, está fora do sistema, quando, na verdade, tudo o que faz é compactuar com tal sistema ao colocar mais presos em cadeias superlotadas e mais corpos em cemitérios.
Com relação ao consumo de drogas, Capitão Nascimento se mostra mais impotente ainda. Ele apenas pode odiar os usuários e prendê-los, sem conseguir reduzir o número de viciados.
No fundo, o homem por trás da farda de Capitão pressente que não opera nas causas do crime. Então, acaba por embrutecer seu discurso, ao afirmar que participa de uma guerra, para, assim, tentar se enxergar como uma força que faz a diferença na sociedade.
Capitão Nascimento não é o homem fardado. É o homem impotente, incapaz de subir um penhasco, disposto a largar a polícia.

1 comentários:

Anônimo disse...

Li tudo sobre, ouço os jargões todos os dias, mas ainda não me animei a assistir a bagaça. Porém, entendi perfeitamente o argumento.

Esse Shamir, continua fazendo jus.

Eu gosto.