sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Crítica dos Simpsons

Tempos atrás, com o lançamento do filme dos Simpsons, pipocaram vários artigos acerca do sucesso que faz esse seriado. A maioria das resenhas acabava por discorrer sobre o tom ácido e crítico da série, tom esse que, em tese, exporia as mazelas da sociedade norte-americana. Infelizmente, um olhar mais atento demonstra que a série defende o status quo norte-americano.
A princípio, personagens como o prefeito Quimby e o chefe Wiggum, além de muitos outros, aturariam de modo a demonstrar a precariedade das autoridades e de suas respectivas instituições. Com base na série, as instituições norte-americanas são comandadas por verdadeiros idiotas, sem preparo algum para seu cargo, possuindo interesses egoístas e mesquinhos. E aí reside o problema dessa tão decantada “crítica à sociedade norte-americana” presente n’Os Simpsons: ao focar-se nas personagens, nas autoridades, o seriado transfere todos os problemas das instituições para os seus respectivos funcionários. Assim, cria-se a idéia de que, se as instituições vão mal, basta trocar a sua autoridade, anulando toda e qualquer hipótese de que o problema da instituição possa ser inerente à sua estrutura. Em suma, a crítica feita pelo seriado é rasa, mal colocada, apenas ferindo os representantes da sociedade norte-americana ao invés de ferir a sociedade como um todo.
Como conseqüência de uma crítica rasa, “Os Simpsons” defende o status quo norte-americano. Isso porque, ao transferir os problemas da sociedade a seus representantes, a série acaba por valorizar suas estruturas e suas instituições. A cada episódio, o telespectador se reconforta ao saber que todos os problemas sociais residem naqueles que estão no poder. E ainda: a cada episódio, por mais que os laços familiares sejam estremecidos, por mais que a Springfield seja abalada, a série acaba por retornar a um estado inicial que ignora o ponto de chegada do episódio precedente; o telespectador consome uma mensagem de alta redundância, em que não há ponto de chegada, evolução narrativa. Trata-se do consumo de uma não-história.
“Os Simpsons”, série de sucesso que “critica” a sociedade norte-americana, deve seu sucesso justamente por não fazer nenhuma crítica séria. Pelo contrário, anseia o status quo e ajuda a mantê-lo.

1 comentários:

Fabrício disse...

Outro dia vi um espisódio que era bem isso mesmo: o Homer jogava água no painel de segurança quando esse apitava algum alarme de segurança. Um novo funcionário, aplicado, responsável e inteligente, era subalterno ao Homer e ficava louco ao constatar que os idiotas é quem tinham os melhores cargos e não quem lutava pelo melhor da companhia.
Abraço!