domingo, 11 de novembro de 2007

01

É tentador observar o Capitão Nascimento, personagem do filme “Tropa de Elite”, como um herói. Isso porque ele é um sujeito incorruptível, disposto a cumprir sua “missão”, atuando firmemente na “guerra contra o crime”. Mas, se o homem fardado realiza um feito após o outro, o homem por trás da farda pressente que seus atos são ineficazes para acabar com sua “guerra”.
Em vários momentos da película, Capitão Nascimento reflete acerca do crime e de suas origens; ele foca suas reflexões em duas causas que seriam as principais: a polícia operando através de um sistema corrupto e o financiamento do tráfico pelo consumo de drogas. Uma vez que se imagina ter encontrado as causas para o crime, um herói as eliminaria e traria a paz para sua sociedade, o que não ocorre com Capitão Nascimento.
Ele nota um sistema corrupto, mas não o combate. O máximo que consegue fazer é praguejar e imaginar que, ao atuar pelo BOPE, está fora do sistema, quando, na verdade, tudo o que faz é compactuar com tal sistema ao colocar mais presos em cadeias superlotadas e mais corpos em cemitérios.
Com relação ao consumo de drogas, Capitão Nascimento se mostra mais impotente ainda. Ele apenas pode odiar os usuários e prendê-los, sem conseguir reduzir o número de viciados.
No fundo, o homem por trás da farda de Capitão pressente que não opera nas causas do crime. Então, acaba por embrutecer seu discurso, ao afirmar que participa de uma guerra, para, assim, tentar se enxergar como uma força que faz a diferença na sociedade.
Capitão Nascimento não é o homem fardado. É o homem impotente, incapaz de subir um penhasco, disposto a largar a polícia.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Crítica dos Simpsons

Tempos atrás, com o lançamento do filme dos Simpsons, pipocaram vários artigos acerca do sucesso que faz esse seriado. A maioria das resenhas acabava por discorrer sobre o tom ácido e crítico da série, tom esse que, em tese, exporia as mazelas da sociedade norte-americana. Infelizmente, um olhar mais atento demonstra que a série defende o status quo norte-americano.
A princípio, personagens como o prefeito Quimby e o chefe Wiggum, além de muitos outros, aturariam de modo a demonstrar a precariedade das autoridades e de suas respectivas instituições. Com base na série, as instituições norte-americanas são comandadas por verdadeiros idiotas, sem preparo algum para seu cargo, possuindo interesses egoístas e mesquinhos. E aí reside o problema dessa tão decantada “crítica à sociedade norte-americana” presente n’Os Simpsons: ao focar-se nas personagens, nas autoridades, o seriado transfere todos os problemas das instituições para os seus respectivos funcionários. Assim, cria-se a idéia de que, se as instituições vão mal, basta trocar a sua autoridade, anulando toda e qualquer hipótese de que o problema da instituição possa ser inerente à sua estrutura. Em suma, a crítica feita pelo seriado é rasa, mal colocada, apenas ferindo os representantes da sociedade norte-americana ao invés de ferir a sociedade como um todo.
Como conseqüência de uma crítica rasa, “Os Simpsons” defende o status quo norte-americano. Isso porque, ao transferir os problemas da sociedade a seus representantes, a série acaba por valorizar suas estruturas e suas instituições. A cada episódio, o telespectador se reconforta ao saber que todos os problemas sociais residem naqueles que estão no poder. E ainda: a cada episódio, por mais que os laços familiares sejam estremecidos, por mais que a Springfield seja abalada, a série acaba por retornar a um estado inicial que ignora o ponto de chegada do episódio precedente; o telespectador consome uma mensagem de alta redundância, em que não há ponto de chegada, evolução narrativa. Trata-se do consumo de uma não-história.
“Os Simpsons”, série de sucesso que “critica” a sociedade norte-americana, deve seu sucesso justamente por não fazer nenhuma crítica séria. Pelo contrário, anseia o status quo e ajuda a mantê-lo.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Welcome!

Nosso mundo é hoje, para mim, como um Grande Baile de Máscaras. Todos nós somos obrigados a usá-las para que consigamos passar pelo dia com um menor número de arranhões nas mesmas. No simples exercício de viver o dia, ao ir trabalhar, estudar ou mesmo passear, deparamo-nos com estas máscaras que nós mesmos usamos, além das outras que todos usam. E elas bailam, acompanhando seus donos, ou usuários, pelo salão da vida. Creio que não são falsas máscaras, visto que ninguém é legal o tempo todo, do mesmo modo que ninguém é mal humorado a vida inteira. São apenas máscaras que nosso cérebro aplica em nossas faces para atuarmos nesse baile, que mais parece um teatro da vida real.
O problema com elas é que nós não as enxergamos em sua totalidade. Apesar de serem externalizadas, nós só conseguiríamos enxergá-las se houvesse um espelho que refletisse o que há por dentro. Por dentro do ser, da alma, do pensamento. Esse espelho seria ótimo, mas acho que ficaríamos horrorizados com a imagem de certos pensamentos que pululam nossas mentes... por mais nobres que sejamos em nossos atos, nosso cérebro esconde de todos os outros os pensamento mais íntimos, mundanos, mesquinhos e malévolos que possuímos. Imagine só você como seria a imagem daquele pensamento de vingança que você alimenta contra aquele “idiota” que pegou seu cargo na empresa, ou aquele outro quando você inveja alguém, enfim, já imaginou? Pensamentos bons, sobre amizade, amor, saudade possuiriam lindos reflexos, mas aqueles outros supracitados...
Por isso imagino que neste “Casa dos Espelhos” cada um vai expor suas máscaras, sem pudores, sem medos. Bailaremos neste salão e atuaremos neste palco da vida real virtualmente. Nestes espelhos refletiremos tudo: físico ou abstrato; real ou imaginário; nobre ou impuro. E se você, diletíssimo leitor, é daqueles que só acredita no que vê, tente ver nessa “Casa” um espelho em que sua alma seja refletida e terá grandes surpresas.